20 de outubro de 2017

Por Amor


Passava das 4 horas da manhã quando ele resolveu deitar pra tentar dormir. Os pensamentos conturbados não o deixavam se desligar do mundo lá fora e se entregar ao mundo dos sonhos.
O silencio da rua completamente deserta era quebrado apenas pelos vigilantes que passavam de hora em hora pra dizer que estava tudo bem. Nada de diferente havia acontecido naquela ultima hora.
Dava pra ouvir o som das folhas balançando com o vento.
O computador ligado, tela fixa nas redes sociais atualizadas a cada minuto, na esperança de ter algo que lhe chamasse a atenção. O dedo rolando o botão central do mouse como quem quisesse que a vida passasse na mesma velocidade, mas não passava. Ilusão amarga que a vida joga sem nenhuma cerimonia na nossa cara.
Abria a pagina do seu blog pessoal para escrever algo feliz, amável, mas só conseguia colocar no "papel"  aquilo que lhe incomodava.
Aproximar se das pessoas tem seus riscos. Algumas vezes ele se perde pelo caminho por não saber como lidar com isso, outras deixava as pessoas o perderem por coisas tão insignificantes na vida real mas tão absurdamente grandes no mundo virtual que de certa forma acabava se estressando e sua paciência que já não era lá muita coisa acabava como um passe de magica.
Outro dia viu uma linda moça no ônibus, sorriso hipnotizante, uma energia tão contagiante que ele não conseguiu desviar seus olhos e sua atenção durante o tempo que permaneceu no ônibus. Ela estava completamente descontraída conversando com sua amiga e sequer o notou entrar, sentar, olha-la e descer. Foi completamente invisível aos seus olhos, não porque ela não prestara atenção ao seu redor mas pelo simples fato de estar tão descontraída a conversar com sua amiga. Alguns dias depois a achou nas redes sociais, enviou uma solicitação de amizade que prontamente foi aceita. Começaram a conversar e foram descobrindo a cada novo assunto muitas coisas que tinham em comum. Não demorou muito pra um sentimento diferente começar a surgir, pelo menos ao que lhe parecia a reciproca era verdadeira. Ela dizia palavras carinhosas que o deixavam ainda mais interessado.
Por algum tempo teve certeza que havia encontrado quem ele desesperadamente procurava nessa vida de amores impossíveis e platônicos. Mas as coisas começaram a mudar de uma hora pra outra. As mensagens já não eram tão carinhosas como antes, demorava mais nas respostas, uma certa frieza pairava no ar e o pior de tudo sempre uma desculpa diferente para evitar um encontro pessoalmente.
Ele se viu mais uma vez num beco sem saída, acuado, sem expectativas e por instinto de defesa decidiu se afastar.
Pode ter sido a pior escolha a ser tomada mas pelo menos por agora achava o mais sensato a se fazer, já que ainda não havia cruzado a linha do precipício. Ainda tinha tempo de voltar um passo atrás e não se machucar tanto como nas outras vezes.
Pode ter sido apenas a imensa vontade de amar e ser amado por ser quem e como era, se foi, pelo menos foi sincero, verdadeiro e integro nas suas intenções. Assim se absolveu de qualquer culpa de estar fazendo a coisa errada.
Durante esses dias de conversa seus sonhos foram mais felizes, sempre com a mesma pessoa todos os dias. Não poderia estar mais uma vez enganado e se enganando. Os indícios eram muitos, não conseguia acreditar que mais uma vez ele estava errado, ou melhor, escolhera alguém que não o completava.
Então por defesa  mais uma vez bloqueou esse tipo de sentimentos dentro de si até o dia que ele pudesse ter a certeza que quem ele havia escolhido para amar o escolhera também. Sem medo, sem amarras, sem hipocrisia.
E até lá que a vida siga seu curso como a água que mansamente avança pelo leito de um rio a caminho do mar.
Um mar de incertezas como a própria vida. Se pra bem ou mal pouco o importava, o que lhe importava realmente era não mais sentir a dor de perder quem nunca o pertenceu um dia.



Tom Weiss

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